EM JEITO DE BALANÇO
após um ano de mandato
O actual Executivo Municipal tomou posse há um ano, precisamente nos primeiros dias de Novembro do ano passado. Cumprida que está uma quarta parte do mandato e decorrido o tempo do "estado de graça", normalmente destinado ao conhecimento da situação, julgamos oportuno procurar o seu primeiro responsável, Engº Gustavo Sousa Duarte, para, em jeito de balanço após um ano de trabalho, nos informar sobre o que tem sido feito pela Câmara Municipal, o que se encontra em andamento e quais os projectos que se encontram em carteira.
Fomos recebidos no seu gabinete, com o simpático acolhimento que o caracteriza. E de imediato, tomando como ponto de partida o discurso que proferiu na sessão comemorativa do Feriado do Município, em 21 de Maio, na Assembleia Municipal, fomos questionando:
- Nas comemorações do Feriado Municipal referiu-se a alguns projectos que o Executivo já tinha entre mãos e a outros que ainda são intenções constantes do seu programa eleitoral. Quer concretizar e actualizar?
- Efectivamente, na reunião extraordinária da Assembleia Municipal do passado mês de Maio, tive a oportunidade de anunciar, então sem data, a inauguração do Museu do Côa, que é uma infra-estrutura importante para o Concelho, que nos vai permitir que Foz Côa seja "invadida" por muitos turistas, e depois ali dei conta também dos vários projectos que temos na calha, desde logo, o Centro Nacional de Alta Competição do Remo, no Pocinho, já em vias de adjudicação, podendo esperar-se que até ao final do ano, ou no princípio do seguinte, se possa dar início às obras de construção deste Centro, que será único no País. É um empreendimento que vai atrair muita gente a Foz Côa, uma vez que as equipas de remo de alta competição, de vários países, têm manifestado muito interesse por este local, pois já hoje, com as poucas condições que ali existem, têm mostrado muito interesse em aqui estagiar. Temos também, através da Federação Nacional do Remo, conhecimento que há equipas de vários países, desde a Austrália, países nórdicos e países de Leste que estão interessados em estagiar no Pocinho. Portanto, esta infraestrutura digamos que é mesmo uma necessidade urgente. Além disso, posso adiantar que a Equipa Nacional que concorreu aos recentes campeonatos da Europa em Montemor – o – Velho estagiou no Pocinho, nos meses de Julho e Agosto. Por aqui se vê o interesse deste Centro, cujo custo vai ultrapassar os seis milhões de euros.
Temos também já no terreno, desde 1 de Agosto, o programa "Saúde sobre rodas", que está a ser implementado pela Unidade Móvel de Saúde, em colaboração com a Delegação de Almendra da Cruz Vermelha, equipada com uma viatura adequada e a presença de enfermeiras, levando a efeito uma ronda pelas localidades do Concelho, de modo a que, ao menos uma vez por semana, se encontre de passagem pela localidade para prestar alguns cuidados de saúde, como sejam a medição da tensão arterial, despiste de colesterol e diabetes, e outros cuidados de apoio, designadamente nos domicílios, para pequenos tratamentos, particularmente a idosos, que são a maior parte dos habitantes do Concelho. Para já, veja-se, nos meses de Agosto e Setembro, foram atendidas 1450 e 1900 pessoas, tendo-se percorrido em cada mês 2100 kms. Esperamos , dentro em breve acrescentar novas valências a esta Unidade.
O Cais Fluvial do Pocinho é também uma obra em vias de arranque. Segundo a informação que nos foi dada, as obras de construção deverão ter início proximamente. Trata-se de uma infra-estrutura importante, na medida em que vai permitir que barcos de maior capacidade possam ali acostar, permitindo que os seus viajantes possam visitar as nossas terras e tomar contacto com as nossas gentes e com alguma animação que lhe possa ser proporcionada.
Também já temos a garantia dada pelo IPTM para a candidatura ao QREN do Cais Fluvial do Côa, que vai permitir um acesso directo ao Museu.
- Já é tempo de Foz Côa não andar mais a ver navios...
- Exactamente... O proveito da navegabilidade do Douro tem-nos passado ao lado. Esperamos que, desta vez não fiquemos só "a ver navios", mas também a vê-los parar e que os seus passageiros posam visitar Foz Côa, com vantagem para eles e para nós.
Um outro projecto de grande importância para a cidade de Foz Côa, cujo concurso está a ser preparado e cujas obras, segundo contamos, poderão arrancar ainda no corrente ano, ou no início de 2011, é a requalificação urbana de uma boa parte da cidade, cujo custo andará por cerca de dois milhões e meio de euros. Trata-se de uma grande melhoria no visual de Foz Côa, pois irá beneficiar profundamente a zona da Avenida Gago Coutinho, outra que parte do Tablado e inclui a Zona Histórica, até à Santa Luzia, e uma terceira que irá beneficiar o Parque de Santo António, melhorias estas que irão tornar mais atraente a sede do concelho.
-A Zona Histórica está mesmo a precisar que se olhe para ela com mais carinho.
- Perfeitamente de acordo. Penso que esse espaço tão interessante da nossa cidade vai ser dinamizado com as obras nela previstas, inclusivamente com a instalação de um Centro de Dia para Idosos, que foi incluído no programa eleitoral, e a que nos lançaremos, numa parceria com a Santa Casa de Misericórdia. A par da melhoria daqueles recantos queremos ter em conta a vida das pessoas que ali moram e a sua qualidade de vida. Aquela parte da cidade desfruta de uma excelente paisagem, a partir da Santa Luzia, e aí será criada uma pequena zona de lazer.
- A cidade tem vindo a alargar o seu diâmetro e isso traz problemas de urbanismo.
- Pois, sem dúvida. Mas nós estamos precisamente a trabalhar no sentido de dotar a cidade de Vila Nova de Foz Côa de transportes públicos urbanos, que incluirão o Pocinho, considerando a importância desse núcleo populacional. Uma maior facilidade de transportes entre o Pocinho e a sede do concelho vai trazer a esta muitos passageiros que se ficariam por ali, Os melhoramentos previstos para o Pocinho, como o Centro Nacional de Remo de Alta Competição, o novo Cais Fluvial no Douro e a construção de um equipamento hoteleiro que a EDP tenciona ali levar a efeito, vão fazer desta povoação um verdadeiro centro de lazer e desporto; e, com isso, a existência de transportes urbanos para a sede do concelho será um importante factor de multiplicação das visitas à cidade. A implementação deste projecto tem estado dependente dos concursos de pessoal habilitado, no caso, de dois motoristas para serviços públicos, que se encontram em curso, podendo prever-se que no início do próximo ano se possa iniciar este serviço. O primeiro ano de funcionamento destes transportes será uma experiência piloto.
Uma outra boa notícia é que esperamos, até ao fim do ano, ter todo o Concelho dotado com acesso gratuito à Internet, um moderno mas muito importante meio de comunicação e informação que nos parece devermos facilitar a toda a gente.
- O Parque de Exposições e Feiras de Foz Côa está ali em forma de esqueleto, à espera de melhores dias...
- Nem por isso. Esse empreendimento tem de ser brevemente uma boa realidade. Estamos a candidatar esta obra aos Fundos Comunitários, e esperamos que o concelho venha a usufruir de um espaço moderno e adequado para os fins projectados. A vida económica do concelho terá ali um dos seus principais pulmões, na medida em que é preciso expor e dar a conhecer, para que a procura mais facilmente se manifeste.
- Uma das suas paixões é o "IC34". Sabe-se que ficou decepcionado quando soube da sua desclassificação.
- É verdade. Considero o "IC34" uma via fundamental para Vila Nova de Foz Côa e para toda esta região. É um troço pequeno quanto à distância, mas grande no que para nós significa. Já esteve classificada como um IC no Plano Rodoviário, mas desde há dois anos que foi desclassificado e mal amado. É uma porta aberta entre Portugal e a Espanha, que nos deixa a dois passos de Salamanca, Zamora ou Valladollid, encurtando cerca de 80 kms a distância que hoje percorremos entre Foz Côa e Salamanca, Proporciona uma proximidade singular entre estas duas grandes regiões fronteiriças que precisam de se conhecer melhor em todos os aspectos. Aquelas cidades de Espanha podem ficar aqui a dois passos. Tenho a palavra do Sr. Secretário de Estado das Obras Públicas que o projecto será entregue dentro de dias, por forma a que se dê início às obras durante o ano de 2011.
- O troço ferroviário Pocinho – Barca de Alva parece que não tem pernas para andar, ou tem?
- No ano passado tivemos no Pocinho uma reunião com a Srª Secretária de Estado dos Transportes, onde nos foi dado a entender que o projecto poderia ter pernas para andar. Não obstante, temos contactos com as Câmaras vizinhas no sentido da sua restauração. Não se verificar a sua concretização é um prejuízo muito grave a nível regional. O troço Pocinho – Barca de Alva é simplesmente espectacular; do ponto de vista da paisagem é uma descoberta. Esta pretensão, que partilhamos como é sabido, e em que temos posto o interesse possível, é uma mais valia na medida em que será um especial acesso para o Museu do Côa. Bem gostaríamos de dar, um dia, o que seria uma boa notícia à população deste concelho: o início das obras de prolongamento da linha do Douro entre o Pocinho e a Barca de Alva. Como as sabe, o Douro, como oferta turística, está colocado em 7º lugar entre os destinos turísticos mais sustentáveis sustentáveis do mundo, segundo a revista "National Geographic". Temos aqui uma grande aposta que precisamos de ganhar. Ultimamente, com o barco "Nossa Senhora da Veiga", temos proporcionado viagens fluviais a grupos de intelectuais de vários países, como escritores e artistas plásticos; pessoas de especial sensibilidade, e deles recebemos inúmeros elogios, e a expressão da sua admiração pelos valores que possuímos, como as paisagens, os rios, e sobretudo as populações, que sabem receber com simpatia e hospitalidade. Esses visitantes vão ser os maiores divulgadores das nossas potencialidades nos diversos lugares de onde provêem.
Ainda há poucos dias tivemos a honrosa visita, a título particular, do Presidente da Comissão Europeia, Dr. Durão Barroso, acompanhado do seu "staff", de cerca de 50 pessoas, os quais se confessaram bem impressionados com as belezas naturais e os nossos valores culturais, como o Museu do Côa, que visitaram, tendo ainda a oportunidade de aqui almoçarem e participarem num cruzeiro na nossa embarcação "Nossa Senhora da Veiga".
- Que lhe diz a expressão "o novo Douro"?
- Para quem é daqui, ou aqui vive, a beleza do Douro não o surpreende. Quem vive no meio da beleza tem dificuldade em se aperceber dela. E no entanto esta é uma região única, maravilhosa, habitada por gente heróica, que, com o seu trabalho insano tem feito estas paisagens vivas, que mereceram já a admiração do mundo ao serem classificadas como "Património Mundial". O Douro, ou o Côa, sempre existiram ao lado das nossas populações. "O novo Douro" é uma expressão recente, em jeito de palavra-força, que pretende chamar a atenção para a originalidade dos seus cenários, bem como para a riqueza dos seus produtos. "O novo Douro" é um olhar novo de quem nunca tinha atentado, como agora, ao que somos e temos. E o que temos é fruto do nosso esforço. "O novo Douro" acaba por ser uma revelação, uma amostra dos nossos valores que têm sido muito ignorados O Vinho do Porto e outros produtos de alta qualidade que possuímos, são argumentos de peso que nos levam a ser considerados como um excelente "destino turístico". O "novo Douro" já não é mais uma fronteira líquida, mas um olhar de surpresa sobre nós próprios. Esperemos que a "Missão do Douro", com os projectos que tem em mãos, consiga atrair para a região alguns grandes investimentos que nos proporcionem uma vida diferente e com mais qualidade.
- O Museu do Côa tem características muito especiais e não parece que os seus conteúdos possam ser facilmente apercebidos por parte de todos os públicos. A complementaridade de um "Parque Temático sobre o Paleolítico e a História do Homem" seria particularmente recomendável. Na sua campanha eleitoral defendeu o renascimento desse projecto.
- É verdade. Nós somos dos que consideram que o Parque Temático sobre o Paleolítico e a História do Homem seria um excelente complemento do Museu do Côa. Este Município, através da empresa municipal "Fozcoainvest", já no passado teve aprovado um ante-projecto em Unidade de Gestão do PROCÔA. Hoje sente-se que este Parque Temático, com as suas características mais lúdicas e populares, complementará à perfeição o Museu do Côa. O projecto faz todo o sentido e para isso o Município está a desenvolver alguns estudos para que este projecto possa ser uma realidade.
- A Educação está na lista das suas prioridades. É também uma paixão?
- Eu penso que todo o autarca tem a Educação como uma das suas prioridades. Assim sucede connosco. Interessa-nos o bom funcionamento do equipamento escolar que possuímos.
Esperamos, a partir de Janeiro, a entrada em funcionamento dos Centros Escolares de Vila Nova de Foz Côa e de Freixo de Numão.
A Câmara Municipal tem dado todo o seu apoio às escolas e às actividades circum-escolares dos educandos, na certeza de que a boa preparação das crianças reverterá em desenvolvimento e progresso no futuro das nossas gentes. A partir deste ano, a Câmara, pela primeira vez, assegura o pagamento das refeições a todos os alunos do 1º ciclo. Temos tido contactos para, com a colaboração do Instituto Politécnico da Guarda, implementarmos cursos de especialização tecnológica, vulgarmente conhecidos por CET. Estes cursos dão equivalência ao 12º ano e, para prosseguimento de estudos, os alunos aprovados beneficiam de uma percentagem de vagas para admissão ao Instituto, ainda com a vantagem de algumas disciplinas dos CET serem consideradas directamente como créditos no 1º ano do curso superior. Esperamos que no futuro possa ser criado em Foz Côa um polo desse Instituto.
Mas nem tudo são projectos: entre nós estão a surgir algumas realidades dignas de menção. A Escolinha de Artes, que já está a funcionar com o apoio da "Fozcoactiva, EM", está a ser um sucesso. E vai continuar a ser. O número de inscrições mostra bem o acolhimento que estão a ter estas iniciativas de educação artística. Nas aulas da dança / ballet inscreveram-se 26 pessoas; no teatro contam-se 25; nas aulas de música inscreveram-se 43; na escolinha de futebol temos 29 e na de basket estão 12. Vão funcionar em breve aulas de pintura e de outras artes plásticas, arqueologia e fotografia. Estas iniciativas revelam bem que as famílias pretendem uma formação completa para os seus filhos ou educandos.
- A saúde, no concelho de Foz Côa, anda entre Anás e Caifás: temos uma parte administrativa dependente de Bragança e o transporte de doentes para o Hospital da Guarda. As ambulâncias dos Bombeiros são um "hospital de estrada", com o agravo da pouca capacidade de resposta por parte da Corporação respectiva, carecida que estará de meios humanos e operacionais. O serviço de Urgências ocupa um espaço provisório e o Centro de Saúde utiliza, em regime de arrendamento, o Hospital da Misericórdia. O que dirá o principal responsável do Município perante este cenário?
- No meio disso tudo, o que seriamente nos preocupa, parece que temos algumas boas notícias.
Segundo contactos com a ARS Norte, será iniciada no próximo ano a construção do novo Centro de Saúde, o qual integrará a UBU (Unidade Básica de Urgências) que está a funcionar em local provisório.
Ainda no campo da saúde, penso que é de destacar o Projecto AJUDART, por meio do qual se disponibilizam ajudas e e proporcionam recursos técnicos a quem, de outro modo, dificilmente lhes acederia. Em especial, tem por objectivo colmatar as necessidades de vida diária da comunidade fozcoense com défices motores ou que sejam dependentes temporária ou definitivamente da ART (Ajudas e Recursos Técnicos). Para dar seguimento a este projecto, o Município contou com o generoso apoio da AGAPE FOUNDATION, uma instituição não governamental da Suécia, que cedeu a preço simbólico, à nossa comunidade, nada menos do que 9 toneladas de ajudas técnicas, como cadeiras de rodas, manuais e eléctricas, andarilhos, canadianas, camas articuladas e outros artigos, que vamos distribuir principalmente pelas instituições do Concelho e através do serviço de Acção Social do Município. Esta doação ficamos a devê-la ao Sr. Eng. Carlos Quaresma, director-geral daquela Fundação e bem assim ao Sr. José Augusto Pinto Almeida, seu representante, que veio fazer a entrega, informando-nos que está nas suas intenções enviarem-nos mais cinco toneladas.
Quanto ao acompanhamento psicológico que está a ser feito neste Município, através do Gabinete Municipal de Psicologia, basta dizer que, neste momento, estão a ser assistidas 50 pessoas, e ao mesmo tempo fazendo avaliação e acompanhamento semanal aos alunos, bem como orientação vocacional nos 9º e 12º anos
Não pode deixar de se concluir, pelo que refiro, que a qualidade de vida dos nossos munícipes é uma preocupação constante da Autarquia.
- O concelho de Vila Nova de Foz Côa tem riquezas naturais e outras que o homem desta região consegue rentabilizar. A economia do concelho e as suas organizações não deixarão de estar na lista das preocupações do actual Executivo Municipal.
- Pois naturalmente que não. A economia deste concelho é uma importante parte da nossa vida. Felizmente que Foz Côa possui potencialidades raras, e daí uma excelente diversidade de produtos endógenos que graças à sua excelência, levam o nome de Foz Côa para vários cantos do mundo, desde o vinho à pedra do Poio. Se quanto ao vinho, somos um dos concelhos que mais vinho generoso (que, depois, toma o nome de Vinho do Porto) envia mundo fora, por outro lado, quanto a todos os restantes produtos já são vários os galardões e os louvores que lhes são atribuídos. Aliemos isso à vontade da nossa gente, que não se poupa a sacrifícios, para que os produtos deste concelho, com o azeite e a amêndoa incluídos, obtenham aplausos e conquistem mercados:
A Câmara Municipal, perante tudo isto, tem de dar um contributo especial, e é nossa intenção levar a efeito, provavelmente, no próximo ano, um Certame Internacional, que seja mais do que uma mostra do que de muito bom temos na área do concelho. Temos tido já contactos com produtores de vinhos, com proprietários de quintas situados no concelho, e temos a ideia de continuar a auscultar as cooperativas, não apenas do sector vinícola, mas também de outros sectores produtivos. Esse Certame deverá ser uma afirmação da alta qualidade do que temos, de modo que a economia do concelho consiga ter, nos mercados nacionais e fora deles, o prestígio e o proveito que merecem.
A propósito, acrescentaria que, relacionado com esse objectivo, e com a colaboração da Casa do Concelho de Foz Côa, em Lisboa, temos já alugado um espaço na Avenida Almirante Reis, onde será instalada uma loja "gourmet", com os produtos do Concelho, como o vinho, o azeite, a amêndoa ou o mel. Esta iniciativa é de promoção, e bem pode, pela sua natureza, provocar a abertura de canais comerciais, onde a sua colocação seja mais compensadora.
Para o sector essencialmente agrícola, vamos pôr a funcionar um Gabinete de Apoio ao Agricultor, que será chefiado por um técnico superior e nesse gabinete se prestarão todas as ajudas possíveis, desde informação até à ajuda para a apresentação de candidaturas para os diversos subsídios da União Europeia, papelada essa que os agricultores, por falta de capacidade ou desconhecimento, nem sempre conseguem apresentar, com prejuízos para o próprio e para o sector.
O Executivo não tem descurado a necessidade de apoiar as iniciativas especialmente formativas que são levadas a efeito, no concelho, pelas respectivas organizações, de entre elas as associações ou cooperativas.
- Tendo importantes obrigações no que respeita à cultura e ao desporto, como é que a Câmara Municipal se vê para lhes dar cumprimento?
- Esse é um capítulo de particular importância na vida desta autarquia. A nobreza obriga, como se diz, e a Câmara Municipal procura estar à altura da honrosa posição em que tem sido colocada. Se a Cultura se recomenda, o desporto não é menos exigente, Para os eventos que a Cultura não dispensa e também para aquelas que Desporto requer, dispomos de equipamentos razoáveis e praticamente suficientes. No mais, temos de ir vendo, caso a caso, até onde e como podemos estar presentes. Veja-se, por exemplo, o que tem ocorrido nestes últimos meses em termos culturais. Foz Côa teve a honra de receber, durante cerca de uma semana, umas boas dezenas de artistas de vários países. Eram pintores, fotógrafos, gravadores, escultores, gente das artes plásticas que utiliza os mais diversos materiais para criar obras verdadeiramente impressionantes. Esses artistas levaram aqui a efeito uma Exposição, no Centro Cultural, que, segundo ouvimos, foi a melhor exposição em termos de qualidade que já por aqui se fez. Durante uma semana, esses visitantes puderam apreciar o Concelho e os seus valores, tendo passado pelos miradouros que temos, apreciado Freixo de Numão e a sua monumentalidade, feito uma viagem de barco, entre o Pocinho e a Barca de Alva, apreciado o Museu na fase final de construção, e visitado locais onde existem as famosas gravuras rupestres e a Quinta da Ervamoira e o seu museu de sítio, de tudo e de todos colheram excelentes impressões, de tal modo que, a maior parte deles, regressados às suas terras, nos manifestaram, por diversos meios, o seu agradecimento pelo acolhimento e apoio que receberam em Foz Côa. Sublinhe-se que, em sinal desse reconhecimento, foram oferecidas algumas dessas obras expostas à Câmara Municipal.
- Com vários progressos no campo do desporto, por iniciativa de algumas associações do concelho, as "Fozcoíadas", que são um compromisso eleitoral, estão ou não ainda entre os projectos possíveis?
- Sim, elas serão, de quatro em quatro anos, o coroamento das actividades desportivas no nosso concelho, uma festa que consagre o valor das nossas camadas jovens. Com muita frequência vemos os nossos jovens a alcançar brilhantes resultados em provas regionais e nacionais, com o que muito nos congratulamos. As "Fozcoíadas" serão, para além da competição entre os participantes, uma festa de exaltação do valor do desporto, como factor de enriquecimento de qualquer pessoa e, no caso concreto do nosso concelho, como uma manifestação cívica das qualidades e do espírito da nossa gente. Temos esse projecto em carteira, iremos levá-lo a bom porto e estamos convencidos de que será um importante evento do nosso actual mandato.
- A situação financeira do Município tem sido uma grande preocupação do actual Executivo...
É verdade que sim. Mal tomámos posse, solicitámos, como publicamente tínhamos anunciado, que fosse feita uma auditoria às finanças municipais e, tal como se esperava, foram detectadas várias irregularidades, que, por dever de ofício, tivemos que participar ao Ministério Público. Estando tal matéria em segredo de justiça, não devo pronunciar-me mais objectivamente. Direi no entanto que a dívida a fornecedoresem 31-12-2005 era de cerca de 250.000 euros, em 31-10-2009, quando tomámos posse, cifrava-se à volta de 2.500.000 euros.
E já agora, permita-me que acrescente que, quando preparávamos o Orçamento para o primeiro ano deste mandato expusemos as dificuldades que enfrentamos aos Presidentes de Junta de Freguesia e devo dizer-lhe que, sem excepção, todos compreenderam que este primeiro ano seria de contenção em relação a obras, por forma a pormos em ordem os cofres do Município.
- O concelho de Foz Côa possui na sua área diversas instituições de solidariedade social, que tem em funcionamento Lares e Centros de Dia para idosos. Na sede do concelho, há, além desses, equipamentos para deficientes, uma creche e jardins de infância. Na sua maior parte, ou na sua totalidade, tais instituições vivem com enormes dificuldades financeiras e muito esperam das autarquias, mormente da Câmara Municipal.
- A população deste concelho tem uma média muito alta de pessoas idosas. Já num estudo sobre Foz Côa se encontra referido que os seus habitantes atingem grande longevidade. Ainda bem que assim é. De qualquer modo, contando hoje as nossas gentes com ajudas institucionais, desde o Estado às Juntas de Freguesia, passando pela Câmara Municipal, num concelho como este o peso financeiro é tremendo, mas não podemos, pela nossa parte, deixar de o fazer. Sentimos muito o facto de não podermos apoiar as instituições de solidariedade como elas precisam e merecem. São servidas por pessoas muito generosas, que, nos serviços de gestão, exercem gratuitamente tais funções, tornando-se, por isso, merecedoras do nosso louvor. Por elas e pelas instituições que tanto animam, sentimo-nos obrigados a estar presentes conforme podemos. Vivemos muito as suas preocupações e vamos socorrendo no meio das nossas dificuldades. Mas não estamos apenas na situação de apoiar. Temos pugnado pelas melhorias e aumento das suas valências. O actual Executivo não se tem poupado a esforços e tem feito todos os contactos necessários para que este concelho seja também beneficiado neste aspecto. Neste capítulo, julgamos estar nos primeiros lugares das autarquias que procuram ajudar a sua população menos jovem: Foz Côa é uma das 7 cidades Amigas dos Idosos. Não nos lembramos destes munícipes apenas uma vez por ano. O nosso Município é participante fundador do projecto "Vencer o tempo nas 7 cidades, anunciado oficialmente no Dia Internacional do Idoso. Além de Foz Côa são ainda fundadoras as cidades de Angra do Heroísmo, Alfândega da Fé, Maia, Portimão, Póvoa de Lanhoso e Vila Real de Santo António. Além do mais, e da colaboração com a Universidade Lusófona, pretende-se sensibilizar os maiores de 65 anos de que devem manter-se activos física e psicologicamente, incutindo em cada um o desejo de se manter útil e vivo no seio da sua comunidade, e nos jovens a participarem numa prática solidária em favor dos mais velhos, através de um voluntariado criativo e permanente.
- E os Bombeiros?
- O mesmo lhe diria acerca dos Bombeiros. A Associação Humanitária de Vila Nova de Foz Côa sabe bem o carinho que a Câmara nutre por esta prestimosa Instituição. Ainda não há muito que lhe fizemos entrega de uma viatura TT que fora enviada para serviços de Defesa Civil. Quem conhece o Quartel dos nossos Bombeiros sabe que há ali algumas carências, que só a boa vontade das pessoas consegue minimizar. Está a decorrer a fase final da construção da Extensão do Quartel, na qual esta Câmara tem posto muito do seu esforço. A candidatura destas obras foi aprovada pelos Fundos Comunitários, que a comparticipam, mas a parte restante é totalmente assumida pela Câmara Municipal, a qual comparticipa igualmente nas suas despesas correntes. Misericórdia, Bombeiros e IPSS significam muito no orçamento do Município, mas a utilidade pública destas instituições justifica de sobejo o que se lhes proporciona. São instituições de particular importância para as populações do Concelho.
- No meio de tudo isto, de tantas atenções que são requeridas a um autarca, encara o tempo que lhe falta para cumprimento integral do mandato, olha para os três anos que aí vêm com pessimismo, ou, apesar da crise que vivemos, encara as suas responsabilidades com optimismo, acreditando no que está a fazer?
- Com optimismo, sim, com muito optimismo. É verdade que a conjuntura não é favorável a optimismos, mas eu acredito que o futuro vai ser melhor do que o presente, e acredito nisso por duas razões: a primeira é porque tenho a convicção, ou mesmo a certeza, de que com estas potencialidades e capacidades, dos nossos produtos, da nossa monumentalidade e valores, e principalmente das nossas gentes, com tudo o que temos e somos, o futuro tem de ser melhor, e a segunda é porque, com as possibilidades que já temos e todos estes projectos que haveremos de conseguir, o concelho de Vila Nova de Foz Côa será dentro em breve a referência que já foi, É nos momentos difíceis que as ideias e os projectos avançam. Contamos, como é evidente, com o Poder Central. Não temos tido dificuldades de diálogo a propósito dos projectos em que tem sido necessário dialogar. Quando as pessoas são responsáveis e querem o bem das populações é possível chegar-se aos consensos necessários. Tenho a convicção de que este é um momento crucial para o concelho. Ou aproveitamos a dinâmica que nos tem sido possível imprimir às nossas actividades ou o futuro passa por aqui, mas tão ao lado que o perderemos para sempre.
- Finalmente, que mensagem quer dirigir aos fozcoenses?
- Nada se fará se as pessoas não acreditarem no que se quer, se não arriscarem, se forem cépticas e se colocarem à espera de que sejam os outros a avançar. O concelho de Vila Nova de Foz Côa é um rincão que, se quisermos, terá um bom futuro. O que mais nos falta é empreender, é ousar. Nem o Poder Central nem o Município podem fazer tudo; fazem apenas o indispensável. Temos de dar mais importância aos investimentos do que às despesas correntes, mais ao trabalho do que às festas, mais ao esforço do que ao desinteresse. Ajudem-me a colocar como primeira prioridade tudo o que mais interesse a Foz Côa, aquilo que valorize a sua gente, o que lhe aumente a qualidade de vida. Juntemo-nos em volta dos objectivos indispensáveis, nesta viagem em que todos seremos incluídos, e assim corresponderemos ao que Foz Côa deseja e merece. É esse futuro, onde todos possamos ter um espaço próprio, que eu ambiciono para todos os fozcoenses, aos quais saúdo, onde quer que se encontrem, com o meu grande apreço e sincera amizade.
in "O Fozcoense" edição 2024 de 1 de Novembro 2010
(Entrevista conduzida por Manuel Daniel)