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Numão
Arnozelo
A freguesia de Numão, amplamente estudada neste século por uma multiplicidade de investigadores, tem uma história resplandecente, com um auge assinalável em plena Idade Média. Podendo existir vestígios de uma Pré-História distante, são no entanto já certos e inventariados restos de povoados do Calcolítico a Bronze. Nos «cerros» do « Sobreiral», que inventariámos com a denominação de «Citânia da Teja», fomos encontrar enormes vestígios de uma Pré-História recente (III a II milénios antes de Cristo). Também no morro do Castelo se pode recolher cerâmica destes períodos, o que, «a priori», nos leva a induzir da ocupação do «morro de Numão» desde tempos imemoriais. Teria sido este morro resguardado de povoados do Cobre, do Bronze, do Ferro, fortaleza Romana (?) destruída pelos Árabes, fortaleza Medieval até à pacificação do território Português (após afastada a «Mourama» e delimitadas as fronteiras)?
Do período Pré-Histórico são inúmeros os materiais (essencialmente machados de anfibolite) que se encontram numa colecção particular hoje pertencente ao Senhor Engº Carlos Lacerda. Quanto à fixação Romana, por aqui restaram e se misturaram com os povos autóctones, podendo nós encontrar vestígios (enterrados) na parte baixa da actual freguesia. Inúmeros materiais deste período, com incidência para moedas e pesos de tear em barro foram recolhidos pelo médico Dr. João Gouveia. Restos de colunas em granito, bases e capitéis e outros materiais têm sido exumados em vários pontos da freguesia.
Desses primeiros séculos da nossa era, ficou-nos uma «ara votiva» dedicada aos Deuses e Deusas CONIUMBRICENSES! Durante muitos anos os investigadores ligaram os CONIUM aos CONIM (versus Conimbricenses), o que levou a interpretar a dedicatória aos Deuses de Conímbriga! No entanto, hoje, à luz de uma nova investigação e reinterpretação dos textos, podemos verificar, num documento do século XIII, a referência a «um lugar contra Columbria», provavelmente a tal Coniumbriga que se refere na Ara de Numão! Daí a nossa inclinação para a existência naquele lugar de uma grande «VICUS» e porque não uma «CIVITAS» com a denominação provável de CONIUMBRIGA. Deste período de ocupação são ainda duas inscrições na rocha granítica, uma junto ao Castelo, no caminho do Areal, onde se cita a gens que fez a estrada Romana; outra no lugar da Telheira, onde ficou registado o nome do proprietário (um tal REBURRI). Vários outros lugares com vestígios da «época dos Imperadores» encontram-se espalhados pela área, sobressaindo os lagares e lagaretas, no Morgado, no Arnozelo e outros lugares.
Em 960, o castelo de Numão pertencia, juntamente com outros, a D. Châmoa Rodrigues que o doou ao convento de Guimarães, através de sua tia, a Condessa Mumadona.
Deve, entretanto, ter sido ocupado pelos mouros, pois, segundo alguns, Numão terá sido reconquistado por Fernando I, o Magno, de Leão, em 1055.
O convento vimaranense manteve, contudo, o interesse por este castelo, dado que um inventário das suas propriedades, datado de 1059, continua a mencioná-lo.
A vila de Numão teria ficado, em resultado das investidas árabes, completamente abandonada. Se isso na verdade aconteceu, não durou, todavia, muito tempo uma vez que pouco depois, em 8 de Julho de 1130, D. Fernão Mendes de Bragança e seus filhos dão-lhe o primeiro foral.
O castelo primitivo deve ter sofrido bastante nas lutas com os mouros, levando a que nele se realizassem obras de melhoramento, em 1189, no reinado de D. Sancho I. Vestígio ainda dessa época - século XII - é um Cristo de bronze esmaltado, de Limoges, testemunho, talvez, da presença de cruzados franceses nas lutas contra o Islão. A própria Igreja Matriz, apesar de todas as adulterações sofridas ao longo dos tempos, é de traça românica, assim como a Igreja de Santa Maria, construída dentro do castelo e hoje em ruínas.
Em 1247, era tenente da «terra» D. Afonso Lopes de Baião a quem, como representante régio que era, competia exercer funções de carácter administrativo e militar.
A conservação do castelo preocupa ainda D. Dinis que, em 1285, o mandou reconstruir.
Em 1373 era alcaide de Numão Vasco Fernandes Coutinho, um dos homens mais poderosos das Beiras.
Durante a crise nacional do fim da primeira dinastia, o concelho de Numão adoptou uma posição mais favorável à princesa D. Beatriz, nomeando inclusive um procurador às Cortes de Torres Novas de 1380.
No século XV, o julgado de Numão era obrigado a contribuir com 12 besteiros, sinal da sua importância militar.
Em 1512, D. Manuel I concede-lhe a carta de foral nova, isto numa época em que Numão e o seu termo estaria com uma população de cerca de 300 moradores.
Posteriormente, a importância de Numão começou a enfraquecer, deixando mesmo de ser o local de residência de algumas das suas autoridades mais importantes. A própria justiça que aí se administrava foi contestada, levando a população a pedir a substituição dos juizes locais por juizes de fora, acusando-os de serem aparentados uns com os outros e de não serem imparciais. A partir de meados do século XVII deixa de ser definitivamente a sede do concelho que muda para uma das suas antigas freguesias - Freixo de Numão - localidade onde passam a residir os juizes de fora, novos administradores do concelho.
No século XVIII, Numão deve também ser sido vítima do célebre terramoto de 1755, dadas as várias datas oitocentistas inscritas nas paredes da Igreja Matriz.
Como a generalidade das povoações do concelho apresentou um crescimento populacional contínuo desde o século XVIII até que, já no nosso século, a sangria da emigração o veio anular.
Do muito que já se escreveu sobre Numão, queremos deixar aqui reproduzidas algumas citações da obra «História da Diocese de Lamego» do Dr. Manuel Gonçalves da Costa:
1. O Castelo de Numão, tanto no sentido de fortaleza que de facto foi como de cabeça administrativa dum território, desempenhou papel de primordial importância ao longo da história como baluarte fronteiriço e estratégico do alfoz pelo rio Douro a norte, Custóias a poente, a sul por uma calçada provavelmente romana que desembocava próximo da confluência da ribeira de Duas Casas com a de Tourões, e a nascente pelo veio do rio Águeda. A vasta área deste alfoz, significa, para R. Pinto de Azevedo, a realidade do despovoamento da região, confirmada aliás por outros documentos. Estaria pois na intenção do donatário promover o repovoamento da terra. No respeitante a rendas e direitos, dispôs o foral de D. Afonso III que, em vez do oitavo da cevada, cada morador da vila e termo pagasse 2 alqueires acrescidos de 5 reais «da nossa moeda de 6 ceitis». A pena de arma revertia a favor dos juizes ou do alcaide; os maninhos e um terço dos montados pertenciam ao concelho, sendo os outros dois terços do senhorio, bem como o gado ao vento, ficando a pessoa que o achasse obrigada a declará-lo ao escrivão dentro de 10 dias, sob pena de ver-se «demandado» por furto. Apenas a portagem de compra e venda se reservava como direito real.
Ainda no reinado do Bolonhês surgiu uma disputa entre o concelho e Santa Cruz de Vilariça, sobre parte da veiga de Santa Maria, além-Douro, «contra Columbria», mandada «apegar» pelos moradores de Numâo. Estes fizeram-se representar na corte pelo seu procurador Egas Anes (Egeas Joanes) e depois de discutidas as pretensões das duas partes, acordou-se em partir o lugar ao meio a fim de ambos os concelhos o povoarem e granjearem, excepto o barco e o porto com o respectivo «cartario», acordo confirmado por el-rei em Santarém, a 8 de Fevereiro de 1263. Na crise nacional que se seguiu à morte de D. Fernando, o município numantino tomou o partido da rainha de Castela, solidarizando-se com as outras vilas acasteladas de Penedono, Pinhel, Sabugal, Castelo Rodrigo e Trancoso. Consequentemente, os juizes, juntos «por concelho apregoado» segundo o uso e costume, constituíram «por nosso lydimo avontoso procurador, autor e mensageiro especial» a João Antão, natural de Mós, para em seu nome eleger, por sucessora de D. Fernando, a sua filha Dona Beatriz. Firmes na sua oposição às pretensões do mestre de Avis e ao sentimento geral da nação, os numantinos voltaram a reunir-se três anos mais tarde e escolheram o juiz Afonso Domingues como seu representante no casamento da infanta com D. João de Castela, em documento lavrado pelo tabelião Afonso Fernandes.
No período da «forte emigração» a aldeia foi algo descaracterizada com a construção do inúmeras casas de «betão», multicolores, sem estética, algumas numa área frontal (para sul) do Castelo! Mantêm-se ainda algumas casas de granito que convém preservar, sob pena de se virem a perder características urbanas que, sem serem muito seculares (a partir do século XVII), são no entanto dignas de preservação, com saliência para as casas com traça de arquitectura «Judaica».
Na Arquitectura Religiosa, saliência para:
IGREJA MATRIZ - dos séculos XVI-XVII, a atestar pelas datas do 1630 ou 1632 gravadas na cabeceira, e a de 1699 no muro sul. Deve ter sido restaurada no século XVIII. No púlpito encontra-se gravada da data do 1729.
Tem nave única; portais em arco de volta perfeita; torre sineira adossada, com coroamento em meia esfera; abóbada de berço em madeira com a «Última Ceia» pintada; altares em talha dourada.
CAPELA DE SANTA TERESA - Datada do 1710, com inscrição no lintel da porta. Tem nave única; porta em arco recto, rematada por friso encimado por pedra de armas; altar em talha setecentista.
CAPELA DE SANTA EUFÊMIA - Do século XVI, recentemente descaracterizada. Tem nave única; pórtico em arco de volta perfeita; possui púlpito exterior; altar de talha setecentista, mas de carácter popular.
CASTELO - Monumento Nacional por D.L. do 16/6/1910. - É de planta de configuração irregular; quase não apresenta ameias; possui três portas (a do Poente, a do Arco e a de S. Pedro), torre de menagem e quatro torres. Integra, intra-muros, ruínas da igreja românica de Santa Maria. Extra-muros existe uma Necrópole com sepulturas cavadas na rocha, junto às ruínas da antiga Capela (ou igreja) de S. Pedro, extra-muros.
António N. Sá Coixão e António R. Trabulo, Por Terras do concelho de Foz Côa - Susídios para a sua História - Estudo e Inventário do seu Património, Vila Nova de Foz Côa, Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa, 2ª edição - 1999.