No termo da Touça não estão inventariados sítios arqueológicos datados da pré-história. Do período de ocupação romana são conhecidos já o lugar de Vale das Mós, onde, a par dos vestígios dos primeiros séculos da nossa era, houve ocupação medieval (atestada pela presença de sepulturas e materiais cerâmicos). Também a Quinta dos Bons Ares apresenta vestígios de ter sido uma Villa Romana. No lugar da Proviceira, vestígios de uma Quintã que aparece mencionada no Cadastro do reino de 1525. Era servida esta Quitã pela capela do Divino Espírito Santo, hoje desaparecida.
Lugar inicialmente do termo de Numão veio, no século XIII, a ser cobiçado por D. Abril Peres de Lumiares, um dos principais inimigos de D. Sancho II. D. Abril Peres, neto bastardo de D. Afonso Henriques, começou por pedir o lugar do concelho de Numão. Como o concelho não lho quisesse conceder, o Senhor de Lumiares obteve-o à força, ferindo três homens e matando um outro. O monarca na época encontrava-se enfraquecido e como tal pouco ou nada poderia fazer face às ambições senhoriais. O concelho não teve alternativa e fez-lhe a concessão do «campo» da Touça, em 1242. D. Abril Peres trouxe-o por honra, deixando-o, ao morrer, ao convento de S. João de Tarouca. O mesmo mosteiro beneficiou ainda pouco depois, em 1246, de um legado de D. Paio Furtado que lhe deixou ao falecer a herdade dos Proviceiros.
As Inquirições de D. Dinis feitas nos finais do século XIII, levaram a chancelaria régia a considerar que o lugar fosse devasso, isto é, que fossem abolidos os privilégios de que gozava como terra honrada. Os frades de Tarouca, sentindo a sentença injusta, reclamaram. Todavia, só retomaram a sua posse após o escambro feito por entre eles e o monarca, pelo qual eles cediam a terça parte da então vila de Aveiro, que lhe adviera por doação de D. Abril Peres, em troca da Touça e outras propriedades em Cedovim, Muxagata e Longroiva. O rei coutou o lugar isentando os moradores de todo o foro e peita e do serviço militar, ficando eles apenas a pagarem as dízimas à igreja de Freixo de Numão. O lugar passou a ser prazo do mosteiro, a partir de então, ficando todos os habitantes como caseiros dos sucessivos emprazantes.
No século XVII o prazo era de uma família fidalga de Lamego - a dos Pintos -. Já nos fins do século XVIII vamos encontrá-la na posse de outra família lamecense - os Peixotos -. Sobre estes últimos sabe-se que foi seu possuidor Francisco Peixoto, Senhor de Fermedo e outras terras, Fidalgo e Cavaleiro da Ordem de Cristo, e que recebia os quartos de todos os frutos.
Nos fins do século XVIII foi eleito pelo povo da Touça o primeiro cura para a sua paróquia, deixando a partir de então de ser paróquia anexa à de Freixo de Numão. A ligação ao Mosteiro de S. João de Tarouca manteve-se até ao século XIX, registando-se nos anos imediatos à instauração do liberalismo alguns conflitos entre os seus habitantes e os enfiteutas da terra.
A Touça foi, segundo Pinho Leal, cabeça de concelho, com juiz, vereador e câmara, independente do juiz de fora de Freixo de Numão e só sujeita ao seu capitão-mor. Dos seus administradores figura, em 1834, Jacinto José de Albuquerque, que viria a ser um pouco mais tarde administrador do concelho de Freixo de Numão.
No aspecto eclesiástico tudo leva a crer que durante séculos foi dependente (anexa) de Freixo de Numão. No entanto, no último quartel do século XVIII, depois de mais de 14 anos de embaraços e demandas, se separou, tornando-se Paróquia independente, por três sentenças obtidas:
- a 1ª' no Juízo Eclesiástico de Lamego;
- a 2ª na Cúria Patriarcal;
- a 3ª na Nunciatura Apostólica.
Elegeu o povo da Touça o seu curaem 1793.
Havia nesta Vila uma antiga ermida, dedicada a Nossa Senhora da Visitação, ou da Pureza, para a qual dava a casa de Rodrigo Pinto, de Lamego, 30 mil réis cada ano, para aqui haver capelão que dissesse missa ao povo. A ermida de Nossa Senhora da Visitação foi erecta em Igreja Matriz quando o povo elegeu o seu Cura em 1793.
A agricultura era e é a base de toda a sua economia. No entanto, outrora, o artesanato era também uma actividade lucrativa. Aqui se faziam tapetes e colchas de lã e algodão, por vezes com delicados desenhos. Mas a principal actividade, hoje completamente extinta, era o fabrico da telha, tipo antiga portuguesa, destinada à cobertura das construções da região.
Em 1758 o Pároco de Freixo de Numão registava, em resposta ao inquérito:
«Touça é Vila da antiga comarca de Lamego e hoje da moderna comarca de Trancoso, com 55 fogos e com 163 almas.»
A população da Touça tem grande devoção pela imagem de Santo António, exposta ao culto na sua Igreja. Todos os anos se festeja, com grande solenidade religiosa, o dia de Santo António, santo protector desta localidade e de todos os que nela vivem e trabalham.
No aspecto arquitectónico há a salientar o Pelourinho, a Casa dos Albuquerques, o Forno da Telha, a Igreja Matriz e um conjunto de casas abalcoadas, de granito, em bom estado de conservação ou facilmente reparáveis.
No aspecto urbano, a freguesia de Touça foi pouco descaracterizada talvez devido ao facto de as novas construções terem aparecido em bairros novos como a Gricha e a Lameira. Isso veio permitir a manutenção das casas graníticas, com balcoadas, varandas e átrios, muito características desta zona. Estão, pois, de parabéns as gentes desta terra porque mantêm em bom estado um legado arquitectónico dos seus antepassados.
Entre as casas Solarengas ou de Lavradores abastados, apenas há a registar a denominada CASA DOS ALBUQUERQUES, do século XIX, com vãos em arco abatido com moldura de cantaria simples; piso superior ritmado por três janelas de sacada, sendo de destacar o trabalho de ferro forjado.
0 PELOURINHO, imóvel de interesse público (D.L. nº 23.122, de 11/10/1933) é de estilo simples de picota, assentando sobre dois degraus poligonais. O fuste é igualmente poligonal. O remate é em forma de pirâmide octogonal, coroada por esfera.
Importante e significativo, não pela sua imponência mas pelo significado social e económico que teve, durante séculos, é o Forno da Telha (Forno comunitário) que se localiza na Lameira. Era destinado ao fabrico da telha de «meia cana». Sofreu obras de restauro (se bem que algumas não fossem as mais adequadas). O barro era obtido na área envolvente (Lameira) e misturado com outro tipo proveniente do lugar da Carvalha (Freixo de Numão). Este Forno era administrado pela Junta da Paróquia.
Do Património Religioso apenas existe e resta a IGREJA MATRIZ, que era a antiga ermida do Nossa Senhora da Visitação, transformada em Matriz em 1783, com a criação da paróquia (depois de separada e desanexada da Igreja de Freixo de Numão). A invocação actual é Nossa Senhora da Pureza. Das suas características temos a salientar: nave única, vãos rectos; campanário com duas aberturas sineiras em arco de volta inteira a rematado por frontão angular; cobertura interior em tecto de caixotão único de madeira; púlpito do século XVI11; altar-mor em talha de influência do estilo nacional, mas incompleto.
António N. Sá Coixão e António R. Trabulo, Por Terras do concelho de Foz Côa - Susídios para a sua História - Estudo e Inventário do seu Património, Vila Nova de Foz Côa, Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa, 2ª edição - 1999.