Pocinho e Cortes da Veiga
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Almendra | Castelo Melho e Orgal |Cedovim | Chãs | Custóias | Freixo de Numão e Murça | Horta |
| Muxagata | Numão e Arnozelo | Santa Comba e Tomadias | Sebadelhe | Seixas | Touça | V. N. de Foz Côa, Pocinho, Sto Amaro e Mós
Vila Nova de Foz Côa
Mós
Santo Amaro
Pocinho
As recentes descobertas do Vale do Côa levam-nos a procurar as origens destas gentes no «homem do paleolítico», que há cerca de 20.000 anos desceu o vale e os vales vizinhos (incluindo os do rio Douro), pescando e caçando para sobreviver, gravando com «silex» os painéis do rijo xisto de ambas as margens, por ali se mantendo ou vagueando os seus descendentes, homens do Mesolítico, Neolítico, Calcolítico, Bronze e Ferro, numa sucessão de gerações inter-milenares, que se sucederam c completaram. Assim, na Canada do Inferno, no Vale de Figueira, no Vale de José Esteves, no Vale Cabrões, gravuras do Paleolítico e de períodos posteriores marcam bem a presença humana na área que hoje é termo de Vila Nova de Foz Côa.
No Castelo Velho do Monte Meão poderemos vir a encontrar vestígios pré-históricos, se bem que a muralha visível nos leve tão somente à Idade Média ou, mesmo, ao período de ocupação romana. Só sondagens arqueológicas poderão dar resposta a esta constante interrogação das pessoas, desde a visita ao local, no século XIX, do Abade de Miragaia.
Não será descabida a hipótese de tentar localizar, no lugar do Castelo, vestígios de um povoado da Idade do Ferro. Imensos vestígios líticos encontram-se nas imediações! No Paço são abundantes os vestígios de ocupação do período romano, o que nos leva a supor estarmos (ali no Castelo) perante um «Castro Romanizado»! No lugar do Azinhate sondagens arqueológicas permitiram recolher alguns materiais dos finais da Idade do Ferro, do período Romano e ainda da Idade Média, o que leva a referenciar, naquela veiga planáltica, uma ocupação ultra-secular continuada. Aliás, a julgar por notícias recentes, a Ara votiva que se encontra na Matriz de Foz Côa, dedicada a Júpiter, teria sido oriunda deste sítio.
Nos primórdios da Nacionalidade deve a terra ter sido arrolada pela Coroa, mantendo-se durante muito tempo como «terra reguengueira». Assim se explicará a sua não dependência do então município de Numão, bem como a disponibilização e vontade de D. Dinis em lhe conceder foros e mercês.
Recebeu o seu primeiro foral de D. Dinis, que lho outorgou em 21 de Maio de 1299. Nessa época, Foz Côa compreendia os seguintes limites: para além da Vila Nova, o lugar da Veiga de Santa Maria com seu termo; o Azinhate; Aldeia Nova, que por sua vez chegava ao termo de Vale de Boi, e daí o termo ia em direcção à Portela de Anovia, Muxagata, seguindo para o Côa até ao Douro. O foral dionisino reflecte já um processo de anexação, uma vez que a descrição do termo individualiza alguns lugares. Refira-se ainda que poucas décadas antes, no reinado de D. Afonso III, o lugar da Veiga foi objecto de uma Carta de Composição entre as Câmaras de Numão e da Vilariça.
O segundo foral foi-lhe também atribuído pelo mesmo monarca, que o fez, em Lisboa, a 24 de Julho de 1314. Entre as doações fernandinas, de 1 de Fevereiro de 1371, a favor de Fernando Afonso de Zamora figura também Foz Côa. O mesmo monarca, em 1373, torna a doar as terras de Foz Côa, mas agora a Rui Vasques Fernandes.
Segundo Pinho Leal, Foz Côa foi fundada por D. Dinis, tendo sido elevada à categoria de vila com D. João I. Esta opinião não nos parece ser a mais correcta, porque é precisamente com D. João I que Foz Côa sofrerá uma diminuição da sua autonomia administrativa. Foz Côa principiou a perder privilégios nos finais do século XIV, mais precisamente no reinado ele D. Fernando I e depois, ao iniciar-se a 2ª Dinastia. Em 15 de Julho de 1377, concede D. Fernando à Torre de Moncorvo a adua de Vila Nova de Foz Côa. Em 1385, o Mestre de Avis, estando no cerco de Torres Vedras, deu por termo e jurisdição à sua vila ele Moncorvo a «aldeia» de Vila Nova de Foz Côa. Este acto veio mais tarde a ser confirmado após a subida ao trono de D. João I. D. João I usou Vila Nova de Foz Côa, como terra reguengueira que era, para a sua política de captação de simpatias e apoios para a sua causa. Para além da anexação a Moncorvo, um dos pontos que estrategicamente mais interessava conservar e apoiar, D. João I pagou ainda outros apoios com rendimentos recolhidos em Foz Côa. Passada a crise nacional dos fins do século XIV, Vila Nova de Foz Côa assume o seu lugar de concelho, recebendo a confirmação dos seus privilégios por D. Duarte e por D. Afonso V. entre os senhores de Vila Nova de Foz Côa encontra-se Vasco Fernandes Coutinho, 1º Conde de Marialva.
Teve foral novo de D. Manuel I, em 16 de Julho de 1514, isto numa época em que teria uma população de cerca de 152 moradores, como indica o numeramento de 1527.
Sabemos que ao longo do século XVI, teve Vila Nova de Foz Côa uma demanda com o concelho vizinho de Moncorvo quanto aos direitos de passagem da barca do Douro. Este não foi, todavia, o único conflito em que se viu envolvida, dado que em 2 de Janeiro de 1551, publicou-se uma sentença contra a câmara por se opor à entrada em correição do corregedor da comarca, sem para tal ter privilégios. A administração civil era exercida por um ouvidor, 2 juizes ordinários, 2 vereadores, 2 tabeliães, 2 almotacés, escrivães, alcaide, meirinho da ouvidoria, capitão e sargentos-mores com duas companhias de ordenanças e uma de auxiliares sujeitas à praça de Almeida.
Em 1708 eram senhores da Vila os Condes de Portimão. Os marqueses de Abrantes possuíram também um morgado em Vila Nova de Foz Côa.
O século XIX foi particularmente violento em Foz Côa. Questões religiosas e políticas estiveram no despoletar dessas situações. Acrescente-se ainda que Vila Nova de Foz Côa viu nascer ao longo deste período um grupo de homens de qualidades invulgares, com projecção a nível nacional e que muitas das vezes combateram em partidos diferentes. Recorde-se o vintista José Joaquim Ferreira de Moura, o miguelista Joaquim José de Campos Abreu e Lemos, o setembrista Francisco António de Campos, 1º Barão de Vila Nova de Foz Côa e o cabralista António Joaquim Marçal, isto para citar apenas alguns, que passado mais de um século, ainda hoje é difícil falar sem tomar algum partido.
O concelho de Vila Nova de Foz Côa, beneficiando do desaparecimento de outros concelhos na região, viria finalmente, em 1872, a ganhar os contornos que ainda hoje o caracterizam.
Passemos, agora, a citar excertos da obra "História da Diocese de Lamego", do Dr. Manuel Gonçalves da Costa:
No âmbito eclesiástico, as referências antigas provocaram certa confusão que vamos tentar desfazer através da análise aos documentos segundo as leis da crítica comparativa. Na taxação de 1321, Santa Maria da Veiga pagou 50 libras, enquanto Foz Côa não vem sequer mencionada. Gozou, além disso, da categoria de abadia da apresentação real, tendo chegado até nós os nomes de alguns párocos, como Padre Mendes, que, em Janeiro de 1305, se comprometeu a pagar à Sé de Lamego um tanto por motivo de visitação, como já referimos algures. A 28 de Março de 1488, a apresentação de Luís Martins à igreja da Senhora da Veiga incluiu a «sua anexa de Fozcoa», por ter falecido o reitor desta última, Álvaro Anes, «vosso cantor». Já anteriormente, mas dentro do mesmo século, se mencionam outros reitores, como Fernando Vasques, por cujo falecimento foi nomeado, para o seu lugar, Martim Rodrigues, a 8 de Dezembro do 1463. Por outro lado, dois anos depois de subir ao trono, D. Manuel colocou à frente da mesma igreja o seu capelão João de Melo, por permuta com o abade Lopo Afonso, ao qual largou Santa Comba de Chancim, que era do padroado de Afonso Vaz de Sampaio; a em 1537, aparece também designado por abade o pároco de Vila Nova, D. Álvaro da Costa, que auferia o rendimento anual do 60 mil réis.
Em conclusão: a igreja do Foz Côa não obteve o título do matriz antes da conclusão do templo actual, principiado, muito provavelmente por D. João II, mantendo-se durante a Idade Média coma simples reitoria anexa a Santa Maria da Veiga. A importância desta advínha-lhe da própria antiguidade e da sua situação no lugar de passagem da barca de Moncorvo, centro de procissões de vários concelhos na segunda-feira depois do domingo in Albis, continuadas muito para além da Idade Média quando ficou reduzida a simples capela privada de direitos paroquiais.
A par de Vila Nova, Ievantava-se Aldeia Nova, com a igreja de Santa Maria, do padroado real e que, segundo os citados autores, foi fundada após a anexação de Riba-Côa a Portugal, ou por ter aumentado a população, ou com a fim de acolher os que abandonaram Azínhate por demasíado perto da fronteira com Leão. Nesta capela festejavam os estudantes Santa Luzia. Em honra da Senhora da Veiga promoviam os lavradores grande solenidade na matriz, no dia 8 de Setembro. São Sebastião, não longe do antigo cemitério, era o padroeiro dos sapateiros, enquanto Santo António, ao lado do Campo da Feira, recebia as homenagens dos cordoeiros. No dia da sua festa e em outros, corriarn-se ali touros criados no Monte Meão, costume que se manteve até meados do século passado. A maioria dos artesãos de Vila Nova moravam à volta do largo da Senhora da Conceição. A festa da Senhora do Amparo, no sítio do Azínhate, estava a cargo dos almocreves, e a Santa Bárbara, mais para nascente, solenizavam-na os cavadores com procissões, corridas de touros e outras manifestações de gosto popular. A airosa capela de Santa Quitéria, particular, reconstruída no século XVIII e ornada de belos azulejos, altares de talha dourada, acabaria por cair em ruínas nos meados do século seguinte. São Miguel que deu nome ao largo mas tarde conhecido por Campo da feira, ou da Lagoa, foi também demolida na mesma época para possibilitar o alinhamento da rua principal. Entrava-se nela por uma galilé e achava-se circuitada de diversos cobertos para use dos feirantes. A festa celebravam-na os moradores extra-muros. Até aos finais do século XVlll, mantinham-se ainda em pé as ermidas da Senhora da Encarnação e da Expectação, além da igreja da Misericórdia recordada, segundo parece, no nome duma rua.
Na terra fixou-se uma grande colónia de Judeus que fizeram prosperar a vila graças ao seu génio laborioso a de grande capacidade para a indústria. Os que se mantiveram após a infeliz expulsão decretada em 1496, continuaram confinados na judiaria do bairro do Castelo que conservou a designação de «Bairro dos Judeus», mesmo depois de extinta a divisão entre cristãos-novos e cristãos-velhos. D. Joaquim de Azevedo taxa injustamente de preguiçosos os fozcoenses pelo facto de se entregarem menos à agricultura do que ao comércio, ramo em que se mostram destros. Pare este autor, só o amanho da terra merece o título de trabalho. Reconhece porém que a fábrica de atanados e cordovões contribuiu para o enriquecimento de muitas famílias.
Sobre as duas mais imponentes obras arquitectónicas de Vila Nova de Foz Côa, PELOURINHO a IGREJA MATRIZ, nada melhor do que continuar a citar o Dr. Gonçalves da Costa:
A actual matriz é, sem contestação, a obra mais notável da Beira no seu género arquitectónico, com relevo para a fachada mantida quase intacta até nossos dial. O acesso ao interior fazia-se através dum pequeno pátio do qual arrancava uma escada sustentada por dois pilares, de acesso ao campanário. Abriam-se também entradas nos panos laterais, sendo a do lado Sul conhecida por porta do sol. As três naves interiores demarcadas por altas colunas cilíndricas não fugiam ao estilo da região, bem como o púlpito do pedra assente num pedestal, em forma de cálice, mas despido de ornatos. Resumimos a seguir a apreciação que do monumento apresentaram dois críticos de arte:
Templo gótico-manuelino dos maiores a mais belos monumentos de Portugal. O principal valor reside no desenho a lavor do alçado frontal, obra-prima a lembrar algum dos Arrudas que nessa época orientava trabalhos do outro lado do Douro. O pórtico, esmeradamente moldurado, ostenta ornatos encurvados, duas esferas armilares, uma com a cruz de Cristo, outra com a flor de lis, dois escudos régios peculiares da época do Venturoso, e a Virgem com o Menino.
Ladeiam-no contrafortes prismáticos a no alto recorta-se singela rosácea para iluminação do coro. O campanário, de três sineiras, parece reportar-se ao restauro do século XVIII. O corpo da igreja, um tanto atarracado, desenvolve-se em três naves separadas por seis colunas relacionadas entre si por arcos abatidos, com os laterais mais baixos por exigência da cobertura. Na capela-mor pode admirar-se um tríptico quinhentista sobre madeira.
Segundo o emérito investigador de arte, Prof. Dr. Vítor Serrão, as pinturas que se encontram na capela-mor da Igreja Matriz são da autoria do pintor português de quinhentos, António Leitão, cuja obra está também representada no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
Deve atribuir-se à mesma época o esbelto pelourinho levantado na praça, em face da Câmara, com fuste de secção quadrada cingido a meio por anel também quadrado, tudo profusamente decorado de ornamentações caprichosamente entrelaçadas. Do tabuleiro arrancam quatro pináculos rematadosem coruchéu com a esfera armilar e uma flor de lis.
Do Património Religioso temos ainda a salientar:
No Património Arquitectónico Edificado temos ainda a salientar a existência de casas solarengas, tais como a casa do Conde de Pinhel e a Casa da Viscondessa do Foz Côa, entre outras.
O edifício doe PAÇOS DO CONCELHO é de 1858 e substituiu um provável edifício seiscentista, que se tornou demasiado pequeno para as necessidades do concelho, agora (1855) a receber as freguesias dos extintos concelhos de Freixo de Numão, Marialva e Almendra. A porta principal é em arco abatido enquadrado por pilastras estriadas e encimada por janela de sacada. Apresenta armas de D. Pedro V e frontão sem retorno.
Do CASTELO, construído no reinado de D. Afonso V, restam-nos alguns «panos de muralha» e a denominada «Torre do Relógio» que, hipoteticamente, poderá ter pertencido à cintura amuralhada da Vila (modificada posteriormente!).
Da Arquitectura Judaica resta-nos muito pouco, talvez devido aos muitos restauros e alterações no tecido urbano, devendo ser preservadas as casas com «balcoada em xisto» ainda existentes na zona do Castelo!
Vila Nova de Foz Côa foi elevada à categoria de cidade por Lei publicada no "Diário da República", 1ª série, em 12 de Julho de 1997.
António N. Sá Coixão e António R. Trabulo, Por Terras do concelho de Foz Côa - Susídios para a sua História - Estudo e Inventário do seu Património, Vila Nova de Foz Côa, Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa, 2ª edição - 1999.
António N. Sá Coixão e António R. Trabulo, Evolução político-administrativa na área do actual concelho de Vila Nova de Foz Côa : séculos XII a XX, Vila Nova de Foz Côa, Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa, 2ª edição - 1995.
António N. Sá Coixão e António R. Trabulo, A Primeira República no concelho de Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de Foz Côa, Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa, 2ª edição - 1995.
No termo da Touça não estão inventariados sítios arqueológicos datados da pré-história. Do período de ocupação romana são conhecidos já o lugar de Vale das Mós, onde, a par dos vestígios dos primeiros séculos da nossa era, houve ocupação medieval (atestada pela presença de sepulturas e materiais cerâmicos). Também a Quinta dos Bons Ares apresenta vestígios de ter sido uma Villa Romana. No lugar da Proviceira, vestígios de uma Quintã que aparece mencionada no Cadastro do reino de 1525. Era servida esta Quitã pela capela do Divino Espírito Santo, hoje desaparecida.
Lugar inicialmente do termo de Numão veio, no século XIII, a ser cobiçado por D. Abril Peres de Lumiares, um dos principais inimigos de D. Sancho II. D. Abril Peres, neto bastardo de D. Afonso Henriques, começou por pedir o lugar do concelho de Numão. Como o concelho não lho quisesse conceder, o Senhor de Lumiares obteve-o à força, ferindo três homens e matando um outro. O monarca na época encontrava-se enfraquecido e como tal pouco ou nada poderia fazer face às ambições senhoriais. O concelho não teve alternativa e fez-lhe a concessão do «campo» da Touça, em 1242. D. Abril Peres trouxe-o por honra, deixando-o, ao morrer, ao convento de S. João de Tarouca. O mesmo mosteiro beneficiou ainda pouco depois, em 1246, de um legado de D. Paio Furtado que lhe deixou ao falecer a herdade dos Proviceiros.
As Inquirições de D. Dinis feitas nos finais do século XIII, levaram a chancelaria régia a considerar que o lugar fosse devasso, isto é, que fossem abolidos os privilégios de que gozava como terra honrada. Os frades de Tarouca, sentindo a sentença injusta, reclamaram. Todavia, só retomaram a sua posse após o escambro feito por entre eles e o monarca, pelo qual eles cediam a terça parte da então vila de Aveiro, que lhe adviera por doação de D. Abril Peres, em troca da Touça e outras propriedades em Cedovim, Muxagata e Longroiva. O rei coutou o lugar isentando os moradores de todo o foro e peita e do serviço militar, ficando eles apenas a pagarem as dízimas à igreja de Freixo de Numão. O lugar passou a ser prazo do mosteiro, a partir de então, ficando todos os habitantes como caseiros dos sucessivos emprazantes.
No século XVII o prazo era de uma família fidalga de Lamego - a dos Pintos -. Já nos fins do século XVIII vamos encontrá-la na posse de outra família lamecense - os Peixotos -. Sobre estes últimos sabe-se que foi seu possuidor Francisco Peixoto, Senhor de Fermedo e outras terras, Fidalgo e Cavaleiro da Ordem de Cristo, e que recebia os quartos de todos os frutos.
Nos fins do século XVIII foi eleito pelo povo da Touça o primeiro cura para a sua paróquia, deixando a partir de então de ser paróquia anexa à de Freixo de Numão. A ligação ao Mosteiro de S. João de Tarouca manteve-se até ao século XIX, registando-se nos anos imediatos à instauração do liberalismo alguns conflitos entre os seus habitantes e os enfiteutas da terra.
A Touça foi, segundo Pinho Leal, cabeça de concelho, com juiz, vereador e câmara, independente do juiz de fora de Freixo de Numão e só sujeita ao seu capitão-mor. Dos seus administradores figura, em 1834, Jacinto José de Albuquerque, que viria a ser um pouco mais tarde administrador do concelho de Freixo de Numão.
No aspecto eclesiástico tudo leva a crer que durante séculos foi dependente (anexa) de Freixo de Numão. No entanto, no último quartel do século XVIII, depois de mais de 14 anos de embaraços e demandas, se separou, tornando-se Paróquia independente, por três sentenças obtidas:
- a 1ª' no Juízo Eclesiástico de Lamego;
- a 2ª na Cúria Patriarcal;
- a 3ª na Nunciatura Apostólica.
Elegeu o povo da Touça o seu curaem 1793.
Havia nesta Vila uma antiga ermida, dedicada a Nossa Senhora da Visitação, ou da Pureza, para a qual dava a casa de Rodrigo Pinto, de Lamego, 30 mil réis cada ano, para aqui haver capelão que dissesse missa ao povo. A ermida de Nossa Senhora da Visitação foi erecta em Igreja Matriz quando o povo elegeu o seu Cura em 1793.
A agricultura era e é a base de toda a sua economia. No entanto, outrora, o artesanato era também uma actividade lucrativa. Aqui se faziam tapetes e colchas de lã e algodão, por vezes com delicados desenhos. Mas a principal actividade, hoje completamente extinta, era o fabrico da telha, tipo antiga portuguesa, destinada à cobertura das construções da região.
Em 1758 o Pároco de Freixo de Numão registava, em resposta ao inquérito:
«Touça é Vila da antiga comarca de Lamego e hoje da moderna comarca de Trancoso, com 55 fogos e com 163 almas.»
A população da Touça tem grande devoção pela imagem de Santo António, exposta ao culto na sua Igreja. Todos os anos se festeja, com grande solenidade religiosa, o dia de Santo António, santo protector desta localidade e de todos os que nela vivem e trabalham.
No aspecto arquitectónico há a salientar o Pelourinho, a Casa dos Albuquerques, o Forno da Telha, a Igreja Matriz e um conjunto de casas abalcoadas, de granito, em bom estado de conservação ou facilmente reparáveis.
No aspecto urbano, a freguesia de Touça foi pouco descaracterizada talvez devido ao facto de as novas construções terem aparecido em bairros novos como a Gricha e a Lameira. Isso veio permitir a manutenção das casas graníticas, com balcoadas, varandas e átrios, muito características desta zona. Estão, pois, de parabéns as gentes desta terra porque mantêm em bom estado um legado arquitectónico dos seus antepassados.
Entre as casas Solarengas ou de Lavradores abastados, apenas há a registar a denominada CASA DOS ALBUQUERQUES, do século XIX, com vãos em arco abatido com moldura de cantaria simples; piso superior ritmado por três janelas de sacada, sendo de destacar o trabalho de ferro forjado.
0 PELOURINHO, imóvel de interesse público (D.L. nº 23.122, de 11/10/1933) é de estilo simples de picota, assentando sobre dois degraus poligonais. O fuste é igualmente poligonal. O remate é em forma de pirâmide octogonal, coroada por esfera.
Importante e significativo, não pela sua imponência mas pelo significado social e económico que teve, durante séculos, é o Forno da Telha (Forno comunitário) que se localiza na Lameira. Era destinado ao fabrico da telha de «meia cana». Sofreu obras de restauro (se bem que algumas não fossem as mais adequadas). O barro era obtido na área envolvente (Lameira) e misturado com outro tipo proveniente do lugar da Carvalha (Freixo de Numão). Este Forno era administrado pela Junta da Paróquia.
Do Património Religioso apenas existe e resta a IGREJA MATRIZ, que era a antiga ermida do Nossa Senhora da Visitação, transformada em Matriz em 1783, com a criação da paróquia (depois de separada e desanexada da Igreja de Freixo de Numão). A invocação actual é Nossa Senhora da Pureza. Das suas características temos a salientar: nave única, vãos rectos; campanário com duas aberturas sineiras em arco de volta inteira a rematado por frontão angular; cobertura interior em tecto de caixotão único de madeira; púlpito do século XVI11; altar-mor em talha de influência do estilo nacional, mas incompleto.
António N. Sá Coixão e António R. Trabulo, Por Terras do concelho de Foz Côa - Susídios para a sua História - Estudo e Inventário do seu Património, Vila Nova de Foz Côa, Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa, 2ª edição - 1999.
Nos limites da freguesia de Seixas do Douro encontramos vestígios pré-históricos no lugar denominado de CASTELO VELHO, localizado junto à ribeira Teja, ali bem junto do caminho que seguia para Numão. Pelos materiais recolhidos tratar-se-á de uma fortificação do Bronze final com uma prolongada ocupação durante a Idade do Ferro.
No lugar do Castelo, bem perto do denominado Alto das Seixas, mas ali bem perto do centro do actual povoado, poderá albergar-se um povoado da Idade do Ferro, depois romanizado, como aconteceu noutros lugares (Mós, Freixo, Cedovim, Muxagata, entre outros).
Do tempo dos Imperadores seria uma importante Villa no lugar da Quinta do Vale, de onde se recolheram importantes materiais.
Durante a Idade Média os moradores dos diversos lugares agruparam-se em volta da Igreja Matriz (a atestar pela grande quantidade de pedra de aparelho que se encontra nos muros das propriedades localizadas entre a Igreja e a Fonte dos Cântaros e Quinta do Vale). A Igreja manter-se-ia no mesmo lugar, mas a população subiu mais a encosta e assentou em volta não da Matriz mas da Capela de Santo António, que datará de 1694.
Tinha um lugar anexo que ainda hoje se denomina Cazal e onde os vestígios de um pequeno povoado são bem visíveis.
Segundo Pinho Leal, existiu nesta localidade um antigo convento beneditino que tora sido fundado no século VII. Em consequência das invasões árabes foi destruído em 981 pelo Almançor, que assassinou todos os frades que pôde alcançar.
É tradição de que a primitiva Igreja Matriz foi a antiga Igreja conventual que teve de ser completamente reedificada
O facto de ser S. Martinho o padroeiro parece confirmar esta tradição.
Em 1380, Seixas foi uma das aldeias do concelho de Numão que participaram numa reunião destinada a nomear o procurador às cortes de Torres Novas. Pelas Seixas testemunharam, na procuração concelhia, João Miguéis, Afonso Eanes e António (ou Antoninho) Martins.
No século XVI, as Seixas continuavam a ser uma freguesia pouco populosa, atribuindo-lhe o recenseamento de 1527 apenas 13 moradores.
Santo António e Santa Marinha figuram entre as outras devoções dos habitantes das Seixas com referências pelo menos a partir do século XVII. Relativamente a S. Martinho sabe-se que, no século XVIII, ainda era costume oferecerem-lhe os devotos duas telhas, na crença de que ele os protegeria das sezões.
Nas Seixas residiram e nasceram algumas das personalidades mais importantes do concelho. Nos fins do século XVIII, o capitão-mór de Freixo de Numão, Francisco António, tinha aí a sua casa principal.
Em 1844, o termo das Seixas seguia a divisão do de Murça por ordem inversa desde a Pesqueira do Cento e Vinte até à encruzilhada do Rumansil e daqui até à ponte velha seguia todo o ribeiro abaixo até ao Douro.
No século XVIII a família dos Aguilares construiu um belo Solar que veio a denominar-se de Casa Grande, ao estilo da época e um pouco por todo o País.
O sumagre, o vinho e a amêndoa têm sido as culturas que têm motivado, nos últimos dois séculos, esta gente que, para subsistir, é capaz de «remover fragas»!
Todos os anos se faz a festa a S. Martinho. Ninguém com mais realismo e arte nos falou desta tradicional festividade, desta localidade, do que o Dr. José de Aguilar no seu livro "Noite de S. Martinho":
Citemos pois o autor:
«... A tradição é isto e tudo quanto o povo herdou. Ela traz consigo o sentido da imortalidade. Cumpre-se; não se discute; mantém-se não se impõe. É um tributo em jóias, é um dos anéis inoxidáveis da vida olímpica deste povo que no seu horário tem horas para rezar...»
No tecido urbano a descaracterização atingiu já um grau de irreversibilidade, a acrescentar à pouca qualidade dos edifícios da Rua Principal (em xisto).
Temos em saliência a CASA GRANDE ou SOLAR DA FAMILIA AGUILAR, do século XVIII, barroco, de planta rectangular. Das características principais deste Solar temos a destacar: varanda curvilínea que enquadra pórtico e remete para brasão, inscrito em frontão curvo; janelas em arco abatido e mulduradas.
- A FONTE DOS CÂNTAROS é de data indeterminada e não deixa de ser uma obra de arte de características simples, como simples é aliás a gente e a aldeia maravilhosa de Seixas do Douro!
No PATRIMÓNIO RELIGIOSO temos a registar:
- A ERMIDA DE S. MARTINHO, de data indeterminada e sem motivos arquitectónicos de relevo. A Imagem do santo costuma ter, a seus pés, uma botelhinha de vinho, que é colocada em cada ano do dia da sua Festa (11 de Novembro), no fim da procissão que se organiza até lá.
- A CAPELA DE SANTO ANTÓNIO, de data indeterminada (mas muito antiga), de nave única; porta em arco recto com moldura simples; pináculos piramidais nos remates laterais e cruz ornamentada na base; altar em talha relativamente recente.
- A IGREJA MATRIZ, de nave única; pórtico em arco abatido, encimado por medalhão com a data de 1793 incisa (provavelmente, data de um dos restauros); o coroamento da Igreja é constituído pela sineta, de duas aberturas sineiras em arco de volta perfeita; altar do século XVIII.
António N. Sá Coixão e António R. Trabulo, Por Terras do concelho de Foz Côa - Susídios para a sua História - Estudo e Inventário do seu Património, Vila Nova de Foz Côa, Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa, 2ª edição - 1999.
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